Em 1° de fevereiro, o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, informou que Marisa Letícia, 66, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não tinha mais fluxo cerebral. A partir dali, o Brasil acompanhou o protocolo para a confirmação da morte encefálica e a doação de órgãos, autorizada pela família. As córneas, os rins e o fígado foram transplantados em pacientes paulistas.
Mas muitos casos semelhantes deixam de acontecer no Brasil por falta de estrutura dos hospitais para identificar potenciais doadores e diagnosticar esse tipo de óbito. Em Minas, ao mesmo tempo em que cresce a lista de espera por transplantes (de 3.093 em 2015 para 3.143 em 2016), cai a lista de doadores. No ano passado, a taxa de notificação de morte encefálica foi de 27,5 por milhão de habitantes, o que se mantém estável em relação a 2015 (27,2), mas mostra uma queda em relação a 2014 (32,7) e os anos anteriores (veja abaixo).
O mesmo ocorreu com a taxa de captação de órgãos, que em 2016 foi de 10,4, o pior índice desde 2012 e abaixo da taxa nacional (14). “Tivemos um ano ruim de captação. A saúde, de um modo geral, está muito precária. Alguns hospitais, principalmente no interior, têm dificuldades para fazer o diagnóstico da morte encefálica, o que depende de neurologista ou um neurocirurgião.
Morte não tem hora para acontecer, e é difícil ter um profissional desse no esquema de plantão”, disse o presidente do MG Transplantes – órgão ligado à Secretaria de Estado de Saúde (SES) –, Omar Lopes Cançado Júnior. Minas tem 222 hospitais notificantes, autorizados pelo Ministério da Saúde a informar potenciais doadores – pacientes em coma profundo. “São locais onde seria possível fazer o diagnóstico de morte encefálica, que têm pronto-socorro, Centro de Terapia Intensiva (CTI), leitos com respiração artificial, etc., mas não necessariamente são hospitais com equipamentos suficientes. Muitos perderam parte do corpo clínico nos últimos anos”, afirmou.
Para identificar a morte encefálica, é preciso seguir um protocolo de três etapas, o que inclui análises clínicas para identificar qualquer esboço de respiração ou reflexo, e exames no cérebro, como tomografia e doppler transcraniano. Omar Júnior não soube informar o número de hospitais credenciados que não estão fazendo a notificação, mas a deficiência ocorre até na região metropolitana, onde muitas vezes o MG Transplantes é acionado para emprestar um aparelho de eletroencefalograma portátil. A consequência é a redução do número de transplantes – de 2.185 em 2015 para 1.976 em 2016, queda de 9,5%.